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Nelson Rodrigues

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Ontem começou a 8ª Mostra de Teatro do Colégio Santa Cruz, aqui na zona sul de São Paulo. Sempre que posso eu vou pelo menos à estréia, que é a montagem dos anfitriões da mostra. Eu explico: nesta mostra, há uma montagem diferente a cada terça-feira, durante um mês e diferentes colégios participam. O mais maravilhoso de tudo é que no final da peça, os atores, diretor e elenco ficam no palco e se inicia um debate através do qual é discutida a pedagogia que foi utilizada no processo da montagem em questão. Se você faz teatro, sabe que o processo é mais importante do que o resultado final! Se não faz, eu te digo: o processo é o que vai te fazer crescer como pessoa e como artista. O resultado final é só consequência! Eu adoro participar do debate, é uma pena que sempre termina muito tarde e como estou à pé, nunca posso ficar. Recomendo para educadores e atores.

Mas não foi pra falar disso que eu abri este post. Foi pra falar da montagem que eu assisti ontem, que foi “O Beijo no Asfalto”, de Nelson Rodrigues. Esta idéia foi menos atrativa pra mim, que nunca gostei dele – por mais herege que isso possa ser. Mas eu fui por vários motivos: gosto do trabalho do diretor de lá, adoro aquele teatro e talve z porque esperava mudar de idéia a respeito do autor. Eu mesmo já fiz várias cenas de uma das peças dele (A Serpente), mas não gosto e não entendo Nelson Rodrigues.

A montagem de ontem foi ótima. O Vicente usou jornais como elemento cênico principal, o palco era todo forrado por jornais e havia blocos de jornais onde os atores se sentariam e tudo nascia a partir disso. Sobre eles uma lâmpada antiga criando uma iluminação que lembra a das redações dos jornais e luz branca – e só. Os figurinos muito bem feitos e alguns alunos se destacando na criatividade da interpretação. No entanto, saio do teatro do mesmo jeito que eu entrei. Isso sempre acontece quando assisto alguma peça com texto de Nelson Rodrigues.

Não entendo por quê tanta sordidez…! Sei que o mundo é sórdido, sei que o ser humano é sórdido, mas um texto como o dele, em que a sordidez vira alegoria principal, não me enriquece, não me modifica, tampouco me leva a enaltecer o autor, que eu nunca entendi.

Maior paradoxo é que quando li a sua biografia, pude entender por que ele via o mundo desta forma. A sua própria vida andou pelo meio fio. A sordidez estava muito próxima dos olhos dele ainda menino. Será que dava pra ele escrever outra coisa? Muito provavelmente não. Nelson Rodrigues enriquece o teatro brasileiro? Posso entender que enriquece, uma vez que não existe dramaturgia como a dele – não existe outro olhar como o dele. Mas ouso confessar que ontem, como em todas as outras montagens de textos que ele escreveu, eu saí do teatro do mesmo jeito que entrei. Eu sei que o mundo é sórdido. Mas eu não vou ao teatro para ver a mesma coisa que eu vejo do lado de fora. Aí é que está.

Antes da peça, assistimos um pequeno vídeo com imagens cotidianas e narrações do próprio. Ele nos dizia que acha genial quando uma pessoa consegue ser 100% autêntica e se considerava assim. É por causa disso, de autenticidade – e de humanidade, do que considero no meio disso tudo realmente ser verdadeiro – que apesar de não entender a sua obra, eu recomende fortemente a leitura de sua biografia.



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